Por que empresas e mentes brilhantes deixam o Vale do Silício

Sara Winchester
Sara Winchester
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No fim do ano passado, o empresário americano Stuart McLeod, dono da Karbon, uma promissora empresa de tecnologia, deixou o Vale do Silício, que abriga empresas como Facebook, Google e Netflix, para construir uma nova sede às margens do plácido Lago Tahoe, em Nevada. Por mais que seu antigo prédio ficasse em um agitado quarteirão perto da Apple, McLeod achou que a região estava perdendo o encanto. “A reputação do Vale do Silício está ameaçada”, diz. “Há apenas alguns anos, o rápido ritmo da inovação tecnológica era visto como divertido e empolgante, mas hoje as pessoas estão mais céticas. O brilho do Vale está começando a desaparecer.” Nos últimos meses, empreendedores de sucesso como o brasileiro Mike Krieger, cofundador do Instagram, e o americano Peter Thiel, que criou o PayPal, também vêm reclamando da cultura tóxica do Vale e da dificuldade para seduzir os cérebros mais afiados.

Uma das razões que explicam a fuga de empresas e mentes qualificadas é o preço elevado para manter um escritório, abrir instalações industriais e morar nas cidades de Palo Alto, Santa Clara, Mountain View e Cupertino, os centros nervosos que formam a espinha dorsal do Vale do Silício. Os municípios estão entre os mais tributados dos Estados Unidos, à frente até de Nova York. Stuart McLeod calcula que, para viver bem no Vale, uma família com dois filhos precisa ter renda anual de pelo menos 1 milhão de dólares, o que acaba afastando profissionais talentosos ainda não reconhecidos pelo mercado. O aluguel de moradias na região, por exemplo, está entre os mais caros do mundo. Para alugar um apartamento de um dormitório, pagam-se 3 000 dólares mensais, e por isso há muitos funcionários das empresas de tecnologia, especialmente os de baixo escalão, dormindo em trailers ou garagens.

RIQUEZA - Google, em Mountain View: 1 milhão de dólares para viver bem –Brooks Kraft/Corbis/Getty Images

O cenário tem levado o Vale do Silício a perder o seu ativo mais precioso: os jovens criativos que fizeram a fama da região. Um estudo realizado pela consultoria Brunswick Group mostrou que 41% dos moradores entre 18 e 34 anos querem se mudar de lá nos próximos doze meses. Isso é perigoso. Alguns dos que partirem certamente levarão suas ideias brilhantes para os novos destinos (veja o quadro), e é assim que um polo pulsante começa a morrer. Com os aprendizados da pandemia, o Vale é vítima até da tecnologia. Como os recursos técnicos hoje comprovadamente permitem o trabalho a distância, muitas empresas deverão adotar o home office definitivo, fechando os escritórios. O futuro, quem diria, pode ser assustador para o Vale mais famoso do mundo.

Publicado em VEJA de 26 de agosto de 2020, edição nº 2701

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