Pesquisadores enfrentam dificuldades para incluir senso comum em robôs

Sara Winchester
Sara Winchester
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Robôs capazes de manter longas conversas, máquinas que vencem seres humanos em jogos de xadrez, carros que dirigem sozinhos. Ideias que, há poucas décadas pareciam objeto de um futuro utópico são hoje encaradas como um eminente amanhã. Acrescenta-se nessa direção que a pandemia elevou a ainda mais investimentos no campo, principalmente para fazer as máquinas pensarem de forma mais próxima ao do cérebro humano, aproximando os cenários que antes pareciam fruto de sonhos, mas evidenciando os muros que precisam ser superados para que essa tecnologia atinja o poder que se espera dela.

Na lista de empresas focadas em inteligência artificial que aproveitaram a pandemia para lucrar estão startups como a View-Factor, da Bolívia, e Spot.io, de El Salvador,  que venderam sistemas capazes de monitorar temperaturas corporais em áreas amplas, como aeroportos. Já a startup Cognitiva, que atende o governo do Chile, desenvolveu uma IA que coleta informações dos pacientes, visando entender melhor seus sintomas, identificar facilmente os casos de coronavírus e medir o contágio sem colocar em risco profissionais da saúde.

No entanto, é importante ressaltar que a maior parte da inteligência artificial não é tão complexa quanto pode-se pensar. Esses sistemas são, sim, capazes de processar grandes quantidades de dados complexos de forma eficiente. Contudo, é apenas a menor parte da IA que utiliza atributos ditos humanos, como a interpretação e compreensão de todo um contexto.

Se uma máquina é capaz de tudo isso, qual seria, então, a diferença entre ela e nós? Em 2019, um sistema de AI chamado AICAN ganhou sua própria exposição de arte em Nova York. No mesmo ano, o Warner Music Group assinou um contrato com um aplicativo chamado Endel pela distribuição de músicas criadas por algoritmos. Os mais críticos, porém, afirmam que a arte gerada por esses sistemas jamais será inovadora, já que não vem de inspiração, mas de ordens.

Apesar da empolgação com os poderes da tecnologia, ainda estamos longe do universo de empregadas domésticas robô à la Rose, dos Jetsons, ou de supercomputadores apocalípticos, como os do filme “Eu, Robô” (2004). Em outubro de 2019, o pesquisador de IA norte-americano Gary Marcus descobriu uma falha simples em uma rede de inteligência artificial conhecida por manter conversas plausíveis em inglês. Marcus percebeu que, quando ele lhe perguntava o que era acontecia quando se empilha lenha e derruba alguns fósforos em cima, a máquina respondia não com “fogo”, mas com… “eca”.

Eis um conhecido ponto fraco das inteligências artificiais: o senso comum. Por depender de informação implícita, questões que o envolvem tendem a confundir os sistemas. E o problema é velho conhecido: já em 1958, foi publicado um artigo em que se discutia a dificuldade das máquinas de assimilarem informações do tipo. Se, por um lado, a falha parece apontar para uma das poucas exclusividades humanas frente aos supercomputadores, cientistas já estão trabalhando para excluir esse defeito. A cientista chinesa Yejin Choi, por exemplo, criou um sistema chamado COMET, capaz de responder corretamente a problemas de senso comum 77,5% das vezes (para efeito de comparação, os humanos acertam 86% das respostas).

Parece que, ao menos por enquanto, a IA encontrou um ponto em que é difícil igualar o homem. Quando este for resolvido, talvez retomemos a discussão acerca do que nos torna de fato humanos, únicos. Nas palavras de Kevin Kelly, fundador da revista de tecnologia Wired: “A inteligência artificial ajudará a definir a humanidade. Nós precisamos que a IA nos diga quem nós somos”.

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