Golpes da internet

Sara Winchester
Sara Winchester
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Abro meu e-mail. Vejo uma mensagem espantosa. Segundo afirmam, decifraram minha senha. Arrepio. É quase exata. Ameaçam destruir minha vida, me fazer passar vergonha publicamente. Como? Garantem ter capturado imagens pornográficas de que sou protagonista. Chantagem. Pagamento em bitcoins. Só que nunca fiz um nude sequer na minha vida (sei que sou antiquado, porque muita gente já usa nude de cartão de visita). Estavam jogando verde. Provavelmente mandam ameaças semelhantes a outras pessoas, e muitas caem. Mas tive de passar uma tarde mudando todas as minhas senhas.

É somente um dos golpes que rolam pelo mundo wi-fi. Nestes tempos de quarentena, eles aumentaram em quantidade. Todo mundo está on-line, é o paraíso para os hackers. Também, é obvio, clonaram meu cartão. Na última fatura havia dois pedidos de comida pelo Uber Eats. Nunca usei esse serviço, embora falem muito bem dele. Tinha viagens também de Uber, sendo que não saio de casa. Compras que não fiz. Denunciei. Meu cartão foi bloqueado. E me deram um novo. Só que, com o correio, demorou um pouco para chegar. Imaginem ficar na quarentena sem cartão! Dias depois, minha prima também foi clonada. E outros amigos também, e outros, e outros…

“Qual a próxima? A imaginação dos malandros não tem fim. É melhor que a de um escritor de novela como eu”

Outro golpe é pelo celular. Já rolava antes, mas continua. Ligam convidando para um evento (sempre de pessoa conhecida), adiado pela quarentena, mas remarcado para dali a um mês. A tendência é o convidado dizer que aceita. Em seguida, dão um código para digitar, como registro da confirmação, pois se trata de um evento exclusivo. Se alguém digita o código, imediatamente eles se apossam de seu Whats­App. Entram na lista de amigos e pedem dinheiro em nome do clonado (empréstimos, causas beneficentes…). Muita gente já caiu. É um drama! Há outras formas de clonar, isso não tem fim! E, depois, muitas vezes mandam mensagem a alguém da lista de amigos dizendo que estão com um problema, precisam de um depósito urgente. Prometem pagar amanhã! O amigo socorre na confiança. E lá se foi a grana.

Fui vítima de um golpe cuja finalidade não entendo. Tentei comprar on-­line na Nike. Ao me cadastrar, veio o aviso de que eu já era cliente. Estranhei. Nunca comprei na Nike virtual. Quis mudar a senha, informaram que enviariam um código de segurança ao meu e-mail. Mas quem deu o truque cadastrou outro. O código não chega. O mesmo aconteceu em outros sites. É fácil usar o CPF de alguém. Mas para quê, já que não paguei a compra? Se tento ligar e pedir novo cadastro, não há com quem falar. Estou cadastrado falsamente em praticamente todos os sites de vendas. Só sobraram as livrarias, ainda bem! Mas agora, nesse mundo on-line, ficar sem compra digital é como ficar sem combustível!

Tentaram também obter um cartão digital com meu CPF. Consegui impedir, graças à Serasa, que me consultou. Qual a próxima? A imaginação dos malandros não tem fim, é melhor que a de um escritor de novela como eu. É questão de tempo para inventarem um golpe em que eu ou você, algum de nós, certamente vai cair.

Publicado em VEJA de 27 de maio de 2020, edição nº 2688

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