Cresce o interesse pelas bicicletas elétricas

Sara Winchester
Sara Winchester
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Os seis meses de pandemia deflagraram evidentes mudanças no cotidiano, com o esvaziamento dos escritórios e o fechamento das áreas públicas de diversão, como os restaurantes, as salas de cinema e os estádios de futebol. Há alterações urbanas mais silenciosas — silenciosas como o barulho tímido do pequeno motor de uma bicicleta elétrica, celebrado personagem das grandes cidades. Em 2020, as vendas de modelos movidos a eletricidade devem crescer 30% em relação ao ano passado.

Houve um salto nos últimos dias, com a gradual flexibilização da quarentena e o cotidiano retomado de um outro modo. “As pessoas querem agora se locomover com distanciamento, sem aglomerações em ônibus ou metrô, de forma mais econômica e ecológica que o carro”, diz Daniel Guth, diretor executivo da Aliança Bike, Associação Brasileira do Setor de Bicicletas. Um levantamento conduzido pela instituição mostrou que mais da metade dos usuários de bicicletas elétricas deixou de usar automóvel e 87% sentiram melhora na qualidade de vida (leia o quadro).

E, como ninguém é de ferro, pedalar com providencial ajuda da tecnologia é sempre menos cansativo para quem ficou parado tanto tempo entre quatro paredes. Culpa por apelar para o motorzinho? Não. A energia elétrica serve, na verdade, para auxiliar os movimentos. Como o esforço físico (e o suor) é menor, o corpo consegue ficar mais tempo em atividade. Pode parecer paradoxal à primeira vista, mas os modelos convencionais costumam atingir picos de velocidade mais altos que as elétricas — chegam a 35 quilômetros por hora, 10 a mais que as irmãs envenenadas. O motivo: a legislação brasileira não permite motores com velocidade maior. Com preços que variam de cerca de 3 000 reais a 30 000 reais, os modelos são diversos. Os mais caros têm resistência semelhante a uma mountain bike, motores sofisticados e mais tempo de bateria — a autonomia chega a 120 quilômetros. Os mais simples têm fôlego para até 30 quilômetros. As baterias são carregadas na tomada, como qualquer aparelho elétrico. Uma das razões para o alto preço é o imposto sobre produtos industrializados (IPI). Hoje é de 35%, porcentual muito superior aos 10% cobrados das bicicletas comuns. A equiparação é um clamor dentro do setor, que encaminhou uma proposta de redução ao governo federal. Em dezembro de 2013, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamentou o uso da bicicleta elétrica no país, equiparando-a às bicicletas comuns.

O tal do “novo normal”, enfim, se dará nas ciclovias. Na capital paulista, hoje com uma malha de 500 quilômetros, há a promessa de ampliação para 673 quilômetros até o fim do ano. Será bom para o trânsito e bom para a saúde de quem pretende viver em cima de duas rodas. Estudo publicado no Jornal Europeu de Fisiologia Aplicada mostrou que manter o hábito de andar de bicicleta por quarenta minutos, três vezes por semana ao longo de um mês, reduz as taxas de glicose, aumenta a oxigenação e diminui os riscos de doenças do coração. Há ótima eletricidade no ar.

Publicado em VEJA de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704

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