Terceira dose para idosos é bem-vinda, mas não suficiente

Sara Winchester
Sara Winchester
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Na quarta-feira, 25, o Ministério da Saúde anunciou a aplicação de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 em idosos com mais de 70 anos e pessoas com baixa imunidade. Esse reforço estaria previsto para começar no dia 15 de setembro, preferencialmente com as vacinas de RNA ativo, como Pfizer, AstraZeneca e Janssen.

No mesmo dia após o anúncio do ministério, o governo de São Paulo comunicou que a aplicação da terceira dose para esses grupos começaria já no dia 6 de setembro no estado, de forma escalonada, priorizando quem se imunizou há pelo menos seis meses e abrangendo uma faixa etária maior, a partir dos 60 anos. São Luís, a capital do Maranhão, foi ainda mais ligeira e deu início à aplicação do reforço já no dia seguinte, quinta-feira, 26.

A pressa para garantir a terceira dose aos grupos mais vulneráveis, enquanto a maior parte da população — 7 em cada 10 brasileiros — ainda não completou o esquema vacinal, decorre, evidentemente, da preocupação com o avanço da variante delta, que tem se interiorizado no país e corresponde à maioria dos novos casos em estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais. O principal argumento a favor do reforço seria a perda progressiva de eficácia dos imunizantes – estudos recentes têm mostrado que há perda de eficácia em graus diferentes para cada vacina, dentro de cada grupo etário.

Além disso, na China, dois estudos preliminares conduzidos pela Sinovac concluíram que a terceira dose é segura quando aplicada entre seis e oito meses após a segunda, e que nas pessoas com mais de 60 anos, pode aumentar em até sete vezes a taxa de anticorpos que neutralizam o vírus. Nos grupos mais jovens, a reação é menos intensa, mas ainda relevante: nas pessoas de 18 a 59 anos, a taxa de anticorpos aumentou de três a cinco vezes após a terceira dose, ainda segundo a pesquisa.

Apesar dessas evidências, o reforço está longe de ser um assunto consensual. A discordância não é tanto com relação à proteção adicional que ele pode fornecer aos grupos de risco, mas sim quanto ao momento em que seria mais adequado aplicá-lo.

Diante do avanço da variante delta, a terceira dose é bem-vinda, desde que seja aplicada de forma escalonada e respeite um intervalo mínimo após a segunda. Por mais que os casos diários e mortes por Covid estejam em queda, os números brasileiros ainda são muito altos em comparação aos de outros países. Só no estado de São Paulo, há 4 mil leitos de UTI ocupados por pacientes de Covid, um número superior aos leitos de França, Espanha e Reino Unido somados — justamente os líderes em internações na Europa. Juntos, eles têm 180 milhões de habitantes; São Paulo tem 45 milhões.

Isso revela que mesmo um risco menor, em decorrência do avanço da vacinação, ainda é muito significativo para os idosos e imunossuprimidos, e a dose de reforço pode ajudar a frear os quadros graves nesse público. No entanto — e isso é fundamental — somente ela não é suficiente para diminuir de forma satisfatória contágios e mortes. É essencial que ela seja associada a medidas de proteção individual e coletiva, como distanciamento e uso de máscara, além de toda a profilaxia que já conhecemos — mas que contradiz a ideia sedutora de que estamos no “fim da quarentena”. Ainda estamos longe disso, e, quanto mais os gestores públicos adiarem a imposição de políticas públicas relevantes para conter a pandemia, menor será o impacto do reforço.

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