Congresso do Peru debate moção para destituir presidente Vizcarra

Sara Winchester
Sara Winchester
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O Congresso do Peru abriu debate nesta sexta-feira, 11, sobre uma moção para destituir o presidente, Martín Vizcarra, por suposta “incapacidade moral” após ter sido gravado pedindo a seus assessores que mentissem em uma investigação parlamentar sobre um escândalo de gastos públicos em plena crise da Covid-19, na qual a economia peruana caiu 40% em abril em comparação a 2019. O governo denuncia a ação parlamentar como um “golpe de Estado”.

“Não vou renunciar, não vou correr”, disse Vizcarra na quinta-feira 10 à noite em uma mensagem televisionada, pouco antes do Congresso submeter a moção para destituí-lo.

O escândalo em questão remete à contratação do cantor Richard Cisneros, conhecido como Richard Swing, pelo Ministério da Cultura em 24 de abril. A função de Swing era a organização de “atividades motivacionais”, a serem realizadas virtualmente, para aprimorar “o rendimento profissional, pessoal e social” dos funcionários da pasta. A contratação, acusada de irregularidades, previa ao cantor o pagamento de 10.000 dólares (53.000 reais).

Gravações da primeira palestra, ocorrida em 7 de maio para mais de 140 funcionários do Ministério, mostram que o discurso motivacional de Swing, de fato, não passa do charlatanismo.

“Seu espaço espiritual está sendo danificado, pois [você] está vindo estressado para o trabalho. Veja o que disse Gandhi: ‘Procure ser tão grande que todos queiram te alcançar, e tão humilde que todos queiram estar contigo’. Que maravilha!”, disse o cantor no evento.

A contratação foi revogada pouco após ter sido revelada no final de maio. Ainda havia mais uma conferência motivacional prevista.

A imprensa local, porém, descobriu depois que Swing, de fato, prestava outros serviços ao Ministério da Cultura desde meados de 2018 pelo menos. Oficialmente, Vizcarra afirma não ter nenhum conhecimento da participação de Swing na pasta.

Áudios recentemente vazados indicam, porém, que o presidente pediu a seus assessores para mentirem no Congresso sobre a quantidade de vezes que o cantor visitou o Palácio do Governo.

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“É preciso dizer que ele entrou duas vezes”, pediu Vizcarra aos seus assessores, que, por sua vez, tinham confirmado, na mesma gravação, cinco admissões de Swing na sede do governo.

Impeachment

Mais da metade dos 130 parlamentares que compõem o Congresso assinou moção de “vacância da Presidência” na quinta-feira. A moção requer 52 votos para ser admitida para debate, iniciando o processo formal de impeachment, que se concluiria com uma votação final em quatro dias.

A votação pode acontecer ainda nesta sexta-feira se a oposição reunir 104 votos, o que não é certo. É preciso 87 votos para que Vizcarra seja destituído.

Nesse caso, o presidente do Congresso, Manuel Merino, assumirá o poder até o restante do mandato, que termina a 28 de julho de 2021.

A moção atual lembra iniciativa que derrubou em 2018 o antecessor de Vizcarra, Pedro Pablo Kuczynski, do qual o atual presidente era vice.

O primeiro-ministro, Walter Martos, denunciou a moção esta sexta-feira como um “golpe” parlamentar em andamento.

“O que o Congresso está fazendo no momento é dar um golpe de Estado, porque está fazendo uma interpretação arbitrária da Constituição”, disse Martos, ecoando as falas do presidente.

Vizcarra disse na quinta-feira estar sendo alvo de “uma conspiração contra a democracia”. Popular pelo seu discurso anti-corrupção, o mandatário acusa seus opositores de buscarem impedir a aprovação de uma reforma que retiraria os direitos políticos de candidatos com sentenças judiciais.

(Com AFP)

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