Imunidade de rebanho é ‘falácia perigosa’, advertem cientistas internacionais

Sara Winchester
Sara Winchester
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Em meio aos novos avanços da Covid-19 na Europa, um grupo de 80 cientistas internacionais alertaram para os riscos do “ressurgimento do interesse” pela teoria da imunidade de rebanho. Em carta aberta publicada desta quarta-feira, 14, pela revista “The Lancet”, os especialistas afirmam que a teoria é uma “falácia perigosa que não foi comprovada por evidências científicas”. Segundo eles, a estratégia, que consiste em permitir que o vírus se espalhe para levar a uma imunidade genuína da população, aumenta os riscos de mortalidade entre os cidadãos, compromete a força de trabalho e pode sobrecarregar os sistemas de saúde e seus profissionais.

Os cientistas alertam ainda que a abordagem também pode “aumentar ainda mais as desigualdades socioeconômicas e as discriminações estruturais já agravadas pela pandemia“, entre outras consequências negativas para a sociedade e para a economia. Com isso, eles defendem que qualquer estratégia para o gerenciamento da pandemia que se baseie em imunidade adquirida de forma natural é “falha”. “Não há evidências de imunidade duradoura contra o Sars-CoV-2 após uma infecção natural, e a transmissão endêmica iniciada representaria um risco para as populações vulneráveis. Essa estratégia não acabaria com a pandemia de Covid-19, mas resultaria em epidemias recorrentes, como foi o caso de várias doenças infecciosas antes da criação das vacinas”, acrescenta o texto.

A carta também insiste na necessidade de comunicar de forma mais clara os riscos trazidos pela doença e de implementar estratégias no combate ao coronavírus, mas sem submeter grandes parcelas da população a períodos prolongados de isolamento social, medida considerada “altamente antiética” e que, embora necessária para conter o avanço da doença e reduzir as taxas de mortalidade, causou problemas físicos e de saúde mental, além dos danos à economia. Com isso, os especialistas indicam a necessidade de implementar medidas que sejam capazes de “suprimir e controlar” a transmissão do vírus, sem elevar as desigualdades. “Restrições contínuas provavelmente serão necessárias a curto prazo. O objetivo dessas restrições é suprimir com eficácia as infecções a níveis baixos que permitam a detecção rápida de surtos localizados e uma resposta rápida por meio de sistemas eficientes e abrangentes de localização, teste, rastreamento, isolamento e suporte para que a vida possa voltar praticamente ao normal”, afirma o texto.

Além disso, os autores da carta defendem que a proteção das economias “está intimamente ligada ao controle da Covid-19 e à preservação da força de trabalho”. Eles citam como exemplos na gestão da crise causada pelo novo coronavírus países como Japão, Vietnã e Nova Zelândia, que provaram que “respostas robustas de saúde pública podem controlar a transmissão, permitindo que a vida volte praticamente ao normal”. “A evidência é muito clara: controlar os contágios comunitários da Covid-19 é a melhor forma de proteger nossas sociedades e economias até que vacinas e métodos terapêuticos efetivos cheguem nos próximos meses. Não podemos arcar com as consequências de distrações que comprometem uma resposta efetiva; é essencial agir de forma urgente e com base em evidências”, conclui o texto.

*Com Agência EFE

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