Em eventos separados, Trump e Biden respondem perguntas dos eleitores

Sara Winchester
Sara Winchester
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Ao invés do segundo debate oficial entre os candidatos à presidência, a noite desta quinta-feira (15) nos Estados Unidos teve duas sabatinas simultâneas em que o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden responderam, separadamente, às perguntas dos eleitores. Os eventos aconteceram, respectivamente, na Flórida e na Pensilvânia, dois dos estados considerados decisivos para as eleições norte-americanas. As emissoras responsáveis pelas transmissões foram NBC e ABC, que promoveram uma guerra de audiências e obrigaram os cidadãos a terem que escolher previamente qual candidato assistiriam ao vivo.

Na manhã seguinte aos debates, os veículos de comunicação dos Estados Unidos parecem ter dado mais ênfase à atuação do presidente Donald Trump, cuja noite foi mais agitada e polêmica. Ao evitar dar declarações fortes, que são sua marca registrada, o republicano chamou atenção pelas respostas evasivas, provavelmente em uma tentativa de não afastar os eleitores que permanecem em cima do muro: no momento, Trump está atrás de Biden nas pesquisas eleitorais. Também chamou atenção o desempenho da jornalista Savannah Guthrie, que guiou o debate pressionando Trump a dar declarações mais precisas.

O democrata Joe Biden, por sua vez, manteve sua calma característica e respondeu os questionamentos dos eleitores com respostas mais discursivas. O jornalista George Stephanopoulos, que mediou o debate, não questionou o candidato sobre as recentes denúncias, ainda não confirmadas, que o jornal The New York Post fez sobre seu filho, Hunter Biden, o que poderia ter aquecido a noite. Para os brasileiros, chama atenção o fato de Biden ter mencionado, mais uma vez, a importância da Amazônia para conter as mudanças climáticas. Confira, a seguir, os destaques nas transmissões de cada um dos candidatos:

Donald Trump

O debate de Trump aconteceu ao ar livre, no Perez Art Museum em Miami

Coronavírus – Como não poderia ser diferente, a pandemia do novo coronavírus foi um dos principais temas da noite de Donald Trump, que testou positivo para a Covid-19 dias depois do primeiro debate presidencial. Utilizando esse gancho, a jornalista Savannah Guthrie questionou se o presidente havia feito um teste no dia do evento, se utilizava a máscara todo o tempo e se os seus pulmões haviam sido afetados de alguma forma. Nenhuma das perguntas foi respondida com precisão: o candidato à reeleição se limitou a dizer, por exemplo, que fazia testagens com frequência. Na segunda tentativa de conseguir um posicionamento do presidente em relação às máscaras de proteção individual, a mediadora perguntou porquê Trump não havia tornado o seu uso obrigatório no país. Contrariando as afirmações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que reitera que a máscara reduz o risco de infecções, o republicano alegou que não havia consenso sobre a eficácia do acessório. Trump também responsabilizou a China pela pandemia e, se referindo ao lockdown, disse que “a cura não pode ser pior que a doença”.

Extrema direita  – Como Donald Trump já havia se recusado no passado a criticar abertamente os movimentos racistas de extrema direita, Guthrie voltou a levantar o tema pedindo que o presidente condenasse a teoria da conspiração QAnon, também de extrema direita, que falsamente acusa os democratas de estarem envolvidos no tráfico sexual de crianças. O republicano afirmou que não sabia muito a respeito do grupo, apenas que eles se posicionavam contra a pedofilia, e preferiu aproveitar a oportunidade para mencionar o movimento Antifa, que se posiciona contra a extrema direita. “Eu sei sobre a antifa, sei sobre a esquerda radical, e sei como eles são violentos. Eles estão incendiando cidades”, disse.

Imigração – Guthrie trouxe à tona o fato de Trump ter feito cortes no programa Daca, política instituída pelo ex-presidente Barack Obama que impede que grande parte dos imigrantes que foram sem documentos para os Estados Unidos quando crianças sejam deportados. Em resposta, o republicano disse que cuidaria do programa e culpou a pandemia do novo coronavírus pela reduções. “Queremos que as pessoas entrem no nosso país, mas elas têm que entrar por meio de um sistema de mérito e de forma legal”, acrescentou, deixando subentendida a sua opinião sobre o assunto.

Joe Biden

Transmissão ao vivo da ABC com Biden aconteceu em estúdio na cidade de Filadélfia

Coronavírus – Quando o jornalista George Stephanopoulos abordou a temática da pandemia do novo coronavírus, Joe Biden aproveitou a oportunidade para criticar a forma como o seu opositor lidou com a crise sanitária, afirmando que ao invés de liderar o país, Donald Trump só demonstrava preocupação com o mercado financeiro. O democrata afirma que, caso eleito, ele combaterá a doença implementando medidas de saúde corretas, sem deixar de priorizar a reabertura econômica. Sobre a distribuição da vacina contra a Covid-19, ele afirmou: “se os cientistas disserem que a vacina está pronta e foi testada, que passou por todas as três fases, sim, eu a tomaria e encorajaria as pessoas a fazê-lo”.

Políticas públicas e externas – Ainda focando nas mudanças que faria caso se tornasse o novo presidente dos Estados Unidos, Biden explicou que deseja cobrar mais impostos de empresas bilionárias, o que ajudaria na geração de empregos e melhoraria a situação econômica do país. Nesse momento, ele frisou que a classe média não teria que pagar mais impostos e que o aumento só valeria para aqueles que ganham mais de US$ 400 mil ao ano. Por fim, o candidato voltou a criticar o governo Trump mencionando sua política externa com a Rússia, a Coréia do Norte e a OTAN. “Estamos mais isolados do que nunca”, defendeu.

Racismo – Como tanto Donald Trump quanto Joe Biden são homens brancos, um dos eleitores negros que participavam da discussão na Filadélfia questionou como o democrata atuaria em favor das minorias. Biden respondeu dizendo que “para além de tornar o sistema criminal mais justo e decente, precisamos colocar os negros americanos numa posição de gerar riqueza”. Ele continuou afirmando que pretende fazer isso através da universalização do acesso às creches, melhorias em escolas para crianças de baixa renda, universalização do acesso às creches, investimentos de até US$ 70 bilhões em universidades tradicionalmente voltadas à população negra e apoio a empreendedores negros. Porém, Biden se mostrou contra o corte de financiamentos à polícia, que é uma das mudanças pedidas pelo movimento Black Lives Matter. Para ele, o certo seria “mudar as coisas dentro dos departamentos policiais”.

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